Proporção de famílias brasileiras endividadas cai de 62% em 2013 para 58% em junho de 2016

De dezembro de 2013 até junho de 2016, a crise econômica do Brasil gerou uma forte redução na massa total de rendimentos mensais das famílias brasileiras, com uma perda estimada de R$ 4,4 bilhões ao mês (R$ 52,6 bilhões em termos anuais) no final desse período. Essa diminuição resultou na queda de quatro pontos porcentuais (p.p.) na proporção de famílias endividadas nas capitais do País, que passou dos 62% em 2013 para 58% em junho deste ano. Em termos absolutos, significa que o número de famílias endividadas no total das capitais caiu de 9,466 milhões no final de 2013 para 9,062 milhões em junho de 2016 – mais de 400 mil famílias conseguiram sair do endividamento nesse período.

Os dados compõem a sexta edição da Radiografia do Crédito e do Endividamento das Famílias Brasileiras, realizada pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP). A análise contempla dados de 2013 ao primeiro semestre de 2016, com base em informações do Banco Central do Brasil, IBGE e da CNC.

De acordo com a Assessoria Econômica da FecomercioSP, as grandes turbulências nos quadros político e econômico vividos pelo Brasil a partir de 2014 impactaram de maneira expressiva as famílias brasileiras ao deteriorar as condições de renda e emprego. Esses fatores, juntamente com a queda no grau de confiança dos consumidores, explicam nitidamente o ciclo recessivo do consumo, que ainda prevalece corroendo as vendas do comércio em todo o País, além da retração das operações de crédito.

Considerando o número menor de famílias endividadas nas capitais nacionais nesse período, o valor total mensal dessas dívidas caiu, em valores reais, cerca de R$ 1 bilhão, passando de R$ 15,2 bilhões em 2013 para R$ 14,2 bilhões em 2016.

Ainda em relação a 2013, o valor da dívida mensal por família nas capitais também caiu ao passar de R$ 1.611 para R$ 1.569 em junho de 2016, e a parcela da renda mensal comprometida com o pagamento de dívidas subiu um ponto porcentual, de 30% em 2013 para 31% em 2016. Segundo a Federação, o patamar em torno de 30% é considerado razoavelmente adequado para não sinalizar risco de elevação da inadimplência.

No âmbito da inadimplência, a menor procura por empréstimos, ao lado da maior preocupação com a administração mais rígida do orçamento doméstico via redução de dívidas levou a uma trajetória de queda de atrasos na quitação dos empréstimos. Na verdade, houve um acordo tácito: os bancos não querem emprestar como em passado recente e as famílias não querem se endividar da mesma forma que faziam nos tempos de pleno emprego. Esse ajuste, bastante racional e responsável, garantiu, até o momento, um ambiente financeiro com notável alívio na inadimplência.

O processo de redução no número de famílias endividadas fez com que restasse, um conjunto de famílias com menor poder aquisitivo relativo. O reflexo disso foi uma leve alta na proporção de famílias com dívidas em atraso, que era de 21% em 2013, caiu para 18% no final de 2014 e cresceu para 23% em 2015 e em junho deste ano.

Juros
Embora as famílias de todo o País, em 2016, tenham tomado 11% menos empréstimos do que há três anos, elas tiveram um aumento real no pagamento de juros de 6,3%, em função das fortes altas ocorridas no custo dos financiamentos no período. Os juros passaram de 18,9% acumulados nos seis meses iniciais de 2014 para 24,1% no 1º semestre de 2016. Isso representa sair de uma taxa mensal de 2,9% para 3,7%.

Esse comportamento dos juros praticados levou, por consequência, a uma expressiva elevação do valor dos juros pagos pelas famílias nesse período: enquanto que no primeiro semestre de 2014 as famílias despenderam R$ 158,9 bilhões para pagamento de juros de seus empréstimos, essa despesa passou para R$ 174,4 bilhões no mesmo período de 2016, valor equivalente a 5,7% do PIB semestral. Em 2014, nesses mesmos seis meses, esse valor correspondeu a 4,8% do PIB. Assim, mesmo com a retração na tomada de empréstimos pelas famílias em 2016, o custo pago a título de juros foi R$ 15,5 bilhões maior do que há dois anos.

De 2013 a 2016, o saldo do volume das operações de crédito total para pessoas físicas caiu 11,2% em termos reais, passando de R$ 905 bilhões para R$ 804 bilhões. Ao mesmo tempo, nesse período houve aumento substancial na taxa média anualizada de juro ao consumidor, que passou de 42,7% a.a. em 2013 para a média de 54,1% a.a. em 2016.

Segundo os economistas da FecomercioSP, essas constatações deixam clara a importância da política monetária sobre o dia a dia e sobre a capacidade de consumo da população, pois a taxa de juros representa um elemento relevante no total do orçamento doméstico. Isso realça também a importância de uma economia com suas contas públicas ajustadas, pois no final a prática de altos juros nada mais é do que a necessidade de se utilizar uma política monetária restritiva, na ausência de política fiscal adequada, visando evitar o descontrole de algumas variáveis macroeconômicas importantes, principalmente da inflação.

Como a taxa de juros elevada é um obstáculo ao crescimento econômico e um custo elevado tanto para os consumidores como para as empresas e para o setor público, qualquer melhoria passa, necessariamente, por um forte ajuste fiscal. O desajuste é causa e não consequência da crise.

Destaques nas capitais
Curitiba/PR permaneceu sendo, em junho de 2016, a capital com o maior porcentual de famílias endividadas (86%). Florianópolis/SC continuou no 2º lugar do ranking (85%), mesmo com a redução de três pontos porcentuais em relação a 2013. Destacaram-se também Boa Vista/RR (82%), Brasília/DF (78%) e Natal/RN (76%).

Goiânia/GO e Belo Horizonte/MG foram as capitais que, em junho de 2016, apareceram com as menores taxas de famílias endividadas, com 34% e 38%, respectivamente, índices que representam reduções de 16 e 10 pontos porcentuais em relação a dezembro de 2013. Completam a lista das cinco capitais com menor taxa de famílias endividadas: Teresina/PI (53%), Salvador/BA (52%) e São Paulo/SP (49%).

Já entre as capitais com maiores médias mensais de dívidas por família, Vitória/ES liderou o ranking com R$ 3.222, seguida por Porto Alegre/RS (R$ 2.296), Curitiba/PR (R$ 2.133), Belo Horizonte/MG (R$ 2.068) e Florianópolis/SC (R$ 2.042). Em contrapartida, as capitais São Luís/MA (R$ 1.056), Fortaleza/CE (R$ 992), Aracaju/SE (R$ 784), Maceió/AL (R$ 747) e João Pessoa/PB (R$ 612) apresentaram os menores valores médios de dívidas por família, em junho deste ano.

Segundo a FecomercioSP, os dados de distribuição regional do crédito pelo Banco Central justificaram a causa da forte concentração de endividados em algumas capitais do País, como as da região Sul. Os dados do Banco Central indicaram uma assimetria entre população e crédito nessa região, pois respondendo por 15% do número de famílias, a região captou 20% do total de crédito. A região Centro-Oeste foi aquela onde se teve a maior concentração relativa das operações de crédito, respondendo por 8% do número de famílias e 13% das tomadas de empréstimos no sistema financeiro formal.

No sentido inverso, as Regiões Nordeste e Norte foram as que apresentaram as maiores desigualdades relativas entre população e volume de crédito: tendo 27,4% da população, o Nordeste teve uma oferta de crédito de apenas 15,7% do total, e no Norte, essa relação foi de 7,4% e 4,8%, respectivamente. Isso explica em grande parte os altos índices de endividamento informal e contas em atraso nessas capitais.

Em termos do porcentual de famílias com contas em atraso, Boa Vista foi a capital com a maior taxa, com um conjunto de 44% de inadimplentes em junho de 2016. Essa taxa, no entanto, já foi maior em 2013, quando acusou um contingente de 53% de famílias inadimplentes. O aspecto mais preocupante, segundo a Federação, é que a maioria das dívidas em Boa Vista está concentrada em cartão de crédito e carnês, o que sinaliza para elevados custos dessas contas.

As cidades de Macapá/AP (41%), Belém/PA (36%), Cuiabá/MT (35%) e Manaus/AM (35%) completaram o ranking das capitais com as maiores proporções de famílias inadimplentes do País. Já Teresina/PI (17%), Belo Horizonte/MG (16%), Palmas/TO (14%), Brasília/DF (14%) e João Pessoa/PB (10%) apresentaram as menores taxas.

As quatro capitais com as maiores taxas de comprometimento da renda com dívidas estão nas regiões Norte e Nordeste: Manaus/AM (42%), Boa Vista/RR (41%) Teresina/PI (41%) e Natal/RN (36%). São justamente as regiões onde a oferta de crédito mostra as maiores desproporções em relação à população. Brasília/DF completa a lista dos maiores comprometimentos de renda, com 35%.

No sentido oposto, as famílias de Maceió/AL (27%), Belém/PA (27%), Recife/PE (23%), Aracaju/SE (14%) e João Pessoa/PB (13%) foram as que menos comprometeram suas rendas com as dívidas, em junho de 2016.

Ranking Nacional (Junho de 2016)

1 – Porcentual de famílias endividadas

5 maiores
Curitiba/PR – 86%
Florianópolis/SC – 85%
Boa Vista/RR – 82%
Brasília/DF – 78%
Natal/RN – 76%

5 menores
Teresina/PI – 53%
Salvador/BA – 52%
São Paulo/SP – 49%
Belo Horizonte/MG – 38%
Goiânia/GO – 34%

2 – Número absoluto de famílias endividadas
5 maiores
São Paulo/SP – 1.890.447
Rio de Janeiro/RJ – 1.294.260
Brasília/DF – 708.550
Curitiba/PR – 538.939
Salvador/BA – 491.053

5 menores
Vitória/ES – 79.974
Macapá/AP – 79.564
Boa Vista/RR – 73.628
Rio Branco/AC – 68.181
Palmas/TO – 56.840

3 – Parcela da renda mensal comprometida com dívidas
5 maiores
Manaus/AM – 42%
Boa Vista/RR – 41%
Teresina/PI – 41%
Natal/RN – 36%
Brasília/DF – 35%

5 menores
Maceió/AL – 27%
Belém/PA – 27%
Recife/PE – 23%
Aracaju/SE – 14%
João Pessoa/PB – 13%

4 – Valor médio mensal de dívidas por família
5 maiores
Vitória/ES – R$ 3.222
Porto Alegre/RS – R$ 2.296
Curitiba/PR – R$ 2.133
Belo Horizonte/MG – R$ 2.068
Florianópolis/SC – R$ 2.042

5 menores
São Luís/MA – R$ 1.056
Fortaleza/CE – R$ 992
Aracaju/SE – R$ 784
Maceió/AL – R$ 747
João Pessoa/PB – R$ 612

5 – Porcentual de famílias com dívidas em atraso
5 maiores
Boa Vista/RR – 44%
Macapá/AP – 41%
Belém/PA – 36%
Cuiabá/MT – 35%
Manaus/AM – 35%

5 menores
Teresina/PI – 17%
Belo Horizonte/MG – 16%
Palmas/TO – 14%
Brasília/DF – 14%
João Pessoa/PB – 10%

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