Jovem é despedida após ser mãe e empreende em franquia de turismo

Há cerca de quatro anos o Brasil tomou um novo formato na economia, milhares de brasileiros ficaram desempregados e com a ausência de renda muitos profissionais tiveram que arregaçar as mangas e buscarem alternativas criativas. Foi quando o empreendedorismo por necessidade ganhou forças e centenas de novos negócios começaram a surgir no mercado.

Claro que nem sempre empreender dessa forma acaba se tornando algo positivo. Sem planejamento o empreendedor pode apresentar falhas em seu negócio, inclusive falir em pouco tempo o que agravaria ainda mais a situação desse trabalhador que buscou novas formas de voltar ao mercado de trabalho por conta própria.

Segundo recente pesquisa divulgada pela GEM (Global Entrepreneurship Monitor), 2018 fechou o ano com 37% dos negócios em fase inicial, enquanto três anos antes, o número era de quase 43%. Já o indicador Serasa Experian de Nascimento de Empresas divulgado em março deste ano, apontou que o Brasil criou 2,5 milhões de novas empresas em 2018, batendo o recorde da série iniciada em 2010. Os novos negócios cresceram 15,1% na comparação com 2017 (quando surgiram 2,2 milhões de empreendimentos). Do total, os MEIs (microempreendedores individuais) foram a maioria em 2018, chegando a 81,4% e atingindo a marca de 2.064.430 de MEIs formalizados no ano passado, um crescimento de 19,1% na comparação com 2017.

“Com o desemprego e sem enxergar novas saídas empreender acaba se tornando uma opção muito válida para ter uma renda, mesmo que seja algo extra. Porém, é necessário avaliar o segmento que busca empreender, pesquisar números do setor, estudar o público-alvo e principalmente ver se tem aptidão no que busca trabalhar. A pessoa pode não ter experiência alguma em gestão, porém é imprescindível se identificar com aquilo que busca empreender”, avalia Henrique Mol, diretor da Encontre Sua Viagem (rede com foco em serviços de turismo) que está no mercado de franchising desde 2011 e dos 500 franqueados, 20% começaram a empreender após ficarem desempregados.

Demissão após a maternidade

Agatha Barreto Connisky, 29 anos, faz parte dessa parcela de brasileiros que começou a empreender após perder seus empregos. Durante quatro anos ela trabalhou em uma grande casa de câmbio em Curitiba (PR) e sempre se considerou uma funcionária exemplar. Trabalhava em um ambiente totalmente isolado, com paredes e vidros blindados e portas a base de senhas, o que gerava certo desconforto que tomou grandes proporções quando engravidou do filho, Enzo, hoje com quase 3 anos de idade. “Corri risco de vida por conta da pré-eclâmpsia que tive e ainda engordei 27 quilos durante a gestação. O excesso de peso gerou dificuldades em exercer algumas tarefas, e como ficava muito tempo sentada acabou por prejudicar minha circulação”, relembra.

O relacionamento com a empresa se tornou insustentável, mesmo informando todos os riscos de saúde a seus superiores nada foi feito. É como se estivesse sendo punida por ter engravidado. “Demorei duas semanas após descobrir a gravidez para contar aos meus chefes, pois tinha muito medo de ser reprimida. E eu estava certa. No momento em que contei fui julgada, disseram que não esperavam por eu não ser casada. Tive dificuldades em sair do trabalho para fazer os exames de rotina. Era repreendida se ficava doente ou se ia muitas vezes ao banheiro. Foi uma experiência muito ruim”, diz. “Eu queria parar de trabalhar só no último dia para poder aproveitar a licença-maternidade o máximo possível com meu filho, porém não foi possível. Minha gestora na época me obrigou a pegar licença bem antes do previsto, pois não queria que lhe trouxesse atestados. Então recomendou que eu já tirasse a licença. Tirei cerca de um mês antes do parto, contra minha vontade. Mas após chegar em casa e me dedicar apenas a chegada do parto me senti também aliviada. Quando meu filho nasceu foi a melhor sensação do mundo. Foi angustiante voltar ao trabalho quando ele estava com quatro meses de vida”, conta.

Ao voltar ao trabalho após concluída a licença, Agatha ficou na empresa mais seis meses, tempo que é garantido em lei pela estabilidade após a maternidade. Durante esse período os gestores sempre a perguntava se queria engravidar novamente, se estava tomando pílula e se cuidando, e ainda era repreendida quando saía para amamentar ou quando o filho ficava doente e precisava dela. “Sempre batia todas as metas, ganhei todos os anos prêmios de melhor vendedora a nível nacional, nunca recebi uma reclamação, nenhuma ouvidoria durante os quatro anos que estive na empresa. Fui mandada embora nessas condições, por isso acredito que teve sim uma forte descriminação por parte da empresa e a gravidez foi parte disso”, diz.

Fora do mercado de trabalho e com uma criança pequena em casa e as dificuldades de conseguir um novo emprego, Agatha resolveu empreender, não porque era um sonho, mas sim por ser a única opção que encontrou naquele momento para pagar as contas.

Turismo

Após algumas pesquisas pela internet ela conheceu a franquia Encontre Sua Viagem, apaixonada por turismo e por conhecer lugares novos ela visualizou uma boa oportunidade no segmento. O que a fez bater realmente o martelo para compra do negócio, foi o valor barato (na época pagou R$11.500), que inclusive pegou o dinheiro do acerto de contas para fazer o investimento, além da possibilidade de conduzir o negócio home office, para ter mais flexibilidade de horários e passar mais tempo com seu filho. “Meu novo trabalho permitiu ficar com meu filho em tempo integral, sem a necessidade de colocar na creche e ainda possibilitou estender o período de amamentação no peito”, conta. Formada em RH, hoje a jovem cursa ensino superior em Hotelaria e Turismo em Curitiba (PR) para aprimorar ainda mais a vida profissional.

Agatha salienta que logo no primeiro momento buscou investir no setor de franquias por ser um negócio estruturado e ainda o know-how da franqueadora, inclusive o suporte full time, ideal para pessoas que assim como ela não tinham experiência alguma nesse mercado.

Com uma boa carteira de clientes, Agatha afirma que ter o negócio próprio, principalmente conduzindo da própria casa requer muita disciplina e atenção, porém veio de encontro exatamente com o momento que estava passando em sua vida pessoal e ainda ser a sua própria chefe e fazendo os seus próprios horários, sempre de olho nos passos do pequeno Enzo.

Assim que completou um ano na franquia ela conseguiu recuperar todo o dinheiro investido e a expectativa é que até o final deste ano venha a ganhar 100% a mais do que ganhava no antigo emprego. “Ser empreendedora nunca esteve nos meus planos, mas hoje me sinto realizada com o negócio que possibilita que eu atenda clientes de várias regiões do Brasil, inclusive eu posso conduzir o negócio em qualquer lugar, basta eu estar com o computador. Tenho ciência que empreender leva tempo e o passo mais importante eu já dei que é abrir um negócio. Hoje tenho liberdade de viajar e fazer atividades de lazer quando eu quiser”, conclui.