Franquias tipicamente masculinas obtêm resultados excelentes quando administradas por mulheres

Suely Oliveira Souza, de 45 anos, e sua sócia Ângela Cristiana Esteves Sossai, de 42 anos, franqueadas da rede Água Doce – Sabores do Brasil, em Jaú (SP), já ouviram algumas vezes por parte de clientes a pergunta: “quem é o dono?”. A questão pode até parecer genérica. Mas, as empresárias entendem que carrega um toque de preconceito, sobretudo quando percebem a surpresa dos mesmos clientes diante da resposta “não é um dono, são duas donas”.

Mesmo que as mulheres já tenham conquistado espaço no mercado de trabalho – e formem 70% da clientela do restaurante de Ângela e Suely – ainda não é exatamente natural o reconhecimento das lideranças femininas. Para as duas empresárias, porém, são exatamente aspectos associados ao feminino, como uma capacidade mais aberta e generosa ao cuidado e à escuta, que possibilitam o sucesso do negócio. “No nosso ramo, o mais importante é, no final das contas, saber lidar com seres humanos, pessoas de diferentes bagagens culturais e experiências de vida. Claro que existem líderes homens que também contam com esta capacidade desenvolvida. Mas, eu realmente acredito que este seja, sim, um modo essencialmente feminino de trabalhar, de olhar para o outro, de cuidar das relações”, conta Ângela.

Como a rede Água Doce tem sua imagem muito ligada a uma cachaçaria – afinal, foi assim que a marca surgiu, na década de 1990, migrando ao longo dos anos para um restaurante temático, especializado em comida brasileira –, ainda há quem encare o negócio como masculino. “Uma mulher tocando uma cachaçaria era algo bem incomum quando começamos. Mas, minha esposa e co-fundadora, a Sylvia, já encarava o balcão e todas as atividades naquela época e com muito sucesso”, lembra Delfino Golfeto, Presidente da Água Doce. Hoje, a rede, com quase 100 restaurantes, tem muitas mulheres franqueadas e outras sócias. “Todas elas têm jornada estendida e dão conta de todas as atividades, mesmo as mais pesadas. Nosso ramo exige muito do franqueado, porque cedo ele precisa providenciar a rotina administrativa e a casa fica aberta até à madrugada, somando muitas horas de trabalho. É um ramo lucrativo, mas exigente”, explica o Presidente.

Ângela e Suely vivem um cotidiano bem intenso e, ainda assim, estão prestes a assumir a segunda franquia, agora na cidade de Limeira, também no interior de São Paulo. Delfino Golfeto não duvida que elas tenham competência para dar conta de mais uma unidade franqueada. “Não há atividade masculina ou feminina, há exercício de competência. E essas suas vão longe!”, prevê.

O chamado toque feminino pode surgir como um diferencial também em campos de atuação onde os homens são considerados o público principal, permitindo a ampliação das atividades e, por consequência, maiores ganhos para o negócio. “A maioria dos nossos clientes é homens, é verdade. Mas, eles entrariam aqui de qualquer forma, buscando seus suplementos sem muitos problemas em ser atendidos por vendedoras. Já as senhoras da terceira idade, que também fazem parte do nosso público e nos procuram para adquirir suplementos alimentares que trazem a elas mais qualidade de vida, certamente sentem-se mais à vontade ao serem atendidas por mulheres porque o acolhimento feminino é diferente e é algo que levamos a sério”, conta Vanessa Lara Bento, de 33 anos, franqueada da loja de suplementos e acessórios esportivos Dr. Shape, loja de suplementos e acessórios esportivos no bairro do Paraíso, em São Paulo.

Vanessa (foto), Ângela e Suely fazem coro ao afirmar que a atenção especial aos detalhes é o aspecto feminino mais reconhecido por clientes e parceiros. Seja na escolha de uma embalagem promocional especial para um produto, na arrumação da loja ou da vitrine, no caso de Vanessa na Dr. Shape, seja na forma de escolher uma palavra exata ao dar um feedback a um funcionário ou na manutenção do espaço do restaurante, no caso da Água Doce, o que poderia passar desapercebido por olhares mais desatentos é notado e associado a qualidade e respeito a clientes e colaboradores. Mais um ponto, segundo as empresárias, para a expressão do feminino de cada uma delas em prol de seus negócios. E é exatamente a autonomia de ter o negócio próprio que permite que essas escolhas sejam realizadas. “Eu sei que, por fazer parte de uma franquia, não preciso me preocupar com algumas coisas, como a parte de comunicação marketing e sinalização. Mas, para todo o resto, eu faço absoluta questão de cuidar das mínimas escolhas. E, sim, os clientes reparam e valorizam estes cuidados”, aponta Vanessa. “Os toques femininos estão presentes, mas isso nunca significou dificuldades em ter o respeito dos nossos funcionários. Ao contrário, sempre recebemos muita cordialidade e percebemos que todos são colaborativos, mesmo quando se faz necessária alguma postura mais firme ou algum apontamento mais duro”, sinaliza Ângela, franqueada Água Doce.

Desafios
São evidentes, porém, os desafios enfrentados pelas mulheres para conciliarem todos os papeis socialmente ainda exigidos delas, como o de esposas, mães, responsáveis pelo andamento das atividades domésticas – e, é claro, todos os cuidados com a aparência e a saúde. Não é diferente para as franqueadas Vanessa, Ângela e Suely. “Meu marido é meu sócio, mas quem efetivamente toca o negócio no dia a dia sou eu. Existe uma certa flexibilidade por eu ser a dona e conto com bastante suporte da franqueadora em diversos aspectos operacionais. Por outro lado, eu sou responsável direta por tudo o que acontece aqui, o que faz com que meu tempo se torne escasso. Nessas horas eu percebo que a capacidade da mulher em ser mais dinâmica, em atuar em diferentes frentes, também ajuda muito. Fácil não é, mas acaba sendo prazeroso”, aponta Vanessa.

Já no caso das sócias Ângela e Suely, é a força da colaboração entre mulheres a principal arma para lidar com as exigências. Ângela tem uma filha de 10 anos. “Durante muito tempo, eu tive dificuldades em entender e aceitar o tipo de mãe que eu conseguia ser, com pouco tempo, trabalhando até muito tarde da noite. Hoje, eu percebo que ela está bem, que de certo modo se adaptou a esta rotina e que se sente feliz com a minha satisfação profissional e pessoal”, conta Ângela. Suely, que não tem filhos, além de parceira nos negócios há mais de uma década, acompanhou o crescimento da filha de Ângela dando suporte sempre que necessário. “Eu também tenho uma série de atividades e conciliar nem sempre é fácil. Mas nós nos ajudamos. E, independente de qualquer coisa, somos capazes de realizar várias atividades ao mesmo tempo, com qualidade. Esse acaba sendo, nos negócios e na vida, o mais impressionante super poder das mulheres”, finaliza Suely.

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