Qual o perfil ideal de um franqueado?

Proatividade nunca foi defeito. Pelo contrário, é qualidade buscado por 10 entre 10 head hunters e recrutadores de RH. Mas isso quando o assunto é ser funcionário de uma grande empresa. E quando se trata de operar uma franquia… Ser muito proativa combina com estar submetido às normas e padrões de uma rede, sob comando central de uma franqueadora? Será que o profissional que tem gana de empreender não irá se sentir limitado?

Conversamos com Marcus Quintella, professor e coordenador do MBA em Empreendedorismo e do MBA em Gestão Empresarial da FGV para tentar compreender essas situações e descobrir se a proatividade pode ser “excessiva” ou se quanto mais, melhor. Confira abaixo.

Mapa das Franquias: Uma pessoa que é muito proativa e deseja empreender pode ser franqueado ou isso entraria em conflito com suas características profissionais e pessoais?

Marcus Quintella: O sujeito para ser empreendedor não precisa necessariamente ter inovado nem exercer alguma forma de autonomia em suas ações. Uma coisa é certa, para ser empreendedor, o sujeito precisa assumir riscos. O empreendedor não precisa somente se preocupar em inventar novos produtos ou serviços ou ter que inovar sempre, ele precisa ter capacidade de identificar boas e novas oportunidades no mercado, ter percepção do futuro, ser persistente e dedicado e disposto a superar as adversidades, ser capaz de se auto avaliar e de alterar rumos, além de ser disciplinado.

Esse comportamento de ter autonomia de ações é muito relativo, pois depende do tipo de negócio, das regras do jogo, entre outras impedâncias do mercado. Entre tantas definições, o empreendedor deve ser realmente proativo para criar para a construção de algum tipo de negócio, até mesmo inovar, visto que ele terá que planejar o empreendimento futuro, reunir recursos e implementar o negócio.

Agora, para ser um franqueado, o empreendedor precisa de todos os atributos citados anteriormente e não pode ser indisciplinado, revoltado e insubordinado ao franqueador, dado que a regra das franquias, normalmente, são claras e o sujeito deve conhece-las bem antes de entrar no jogo. Se o sujeito não tiver condições de aceitar regras pré-estabelecidas e respeitar a hierarquia do franqueador, mesmo com toda sua proatividade e suas características de empreendedor, estará fadado ao fracasso. É melhor tentar empreender um negócio próprio, com suas próprias regras e ideias.

 

Dois cenários

Mapa das Franquias: Dois cenários possíveis: a pessoa se torna franqueada, mas se sente limitada pela padronização imposta pela franqueadora, tem ideias, quer ousar, experimentar. Dá pra voltar atrás? Dá pra conciliar essas vontades com o papel mais padronizado que terá que desempenhar?

Segundo cenário: a pessoa sai para empreender e descobre que não lida bem com a insegurança, que não opera bem sem ter uma orientação externa, enfim, não nasceu pra coisa, mas se daria bem como franqueado. É possível fazer uma transição?

Marcus Quintella: O primeiro cenário remete à resposta da primeira pergunta. A pessoa não pode vacilar no quesito disciplina e hierarquia, senão fracassará. Se investir dinheiro numa franquia e, depois de algum tempo, começar a sentir dificuldades com o engessamento do negócio, certamente, terá prejuízo se quiser voltar atrás, ou seja, rescindir o contrato ou transferir para outra pessoa a franquia. Existe um contrato rígido, com deveres e direitos e cláusulas de rescisão e descumprimento de regras etc. Se o sujeito for indisciplinado e começar a modificar os padrões do franqueado, os problemas serão maiores ainda e isso se refletirá nas vendas. Por isso, é sempre melhor se preparar bem antes de ser um franqueado, fazer cursos, estudar as regras e as cláusulas contratuais e conhecer a operação da franquia desejada.

O segundo cenário também às características de um empreendedor citados na resposta da primeira pergunta. Para que uma pessoa não passe pela situação de descobrir que não dá para ser empreendedora, ela precisa se preparar antes, também estudar, conhecer os riscos envolvidos no mercado, saber que o campo de jogo é duro, que existe concorrência, entre tantas outras variáveis. 

Da mesma forma que no primeiro cenário, abortar um negócio próprio iniciado não é uma ação simples, pois envolverá demissão de pessoal, rescisão do ponto ou do aluguel do local, venda de estoque, desmonte da estrutura física montada e fechamento legal da empresa, entre outras dores de cabeça. Existe a possibilidade de passar o negócio, mas, certamente, o valor conseguido não será suficiente para recuperar todo o investimento realizado. A transição de negócio próprio para uma franquia é um outro negócio independente. A pessoa terá de começar do zero na franquia. Como essa pessoa já não deu certo no negócio próprio, a melhor coisa a se fazer é se preparar bem ou arranjar um sócio com espírito empreendedor ou com experiência em franquias.

A franquia não deixa de ser um tipo de negócio próprio, apenas tem as regras e padrões a serem obedecidos, mas a pessoa tem que tocar o barco, da mesma forma que tocaria o seu negócio próprio.

Mapa das Franquias: E para evitar os cenários descritos anteriormente: Se a pessoa tem capital e disposição, mas está na dúvida entre ser um franqueado ou partir para uma empreitada inteiramente nova, existe algum teste para que ela conheça melhor seu próprio perfil? Que perguntas ela poderia fazer a si mesma para avaliar melhor seu próprio perfil antes de tomar uma decisão?

Marcus Quintella: Não conheço um teste específico e garantido para isso, mas recomendo que a pessoa se prepare muito, estude, visite negócios de amigos, conheça as franquias, entenda como se planeja um negócio por meio de um plano de negócios competente. As respostas anteriores já possuem elementos para uma pessoa em dúvida formular questões sobre saber se poderia ser ou não um empreendedor.

Ajudarei e deixarei apenas cinco perguntas para serem respondidas por aqueles que estão com essa dúvida: (1) o dinheiro que tenho para investir pode ser colocado em jogo, sem fazer falta em minha vida, no caso de fracasso do negócio e consequente perda do mesmo? (2) qual seria a minha reação diante de um fracasso e perda desse dinheiro? (3) tenho estômago para assumir os riscos do mercado, ou seja, variações do dólar, altas da inflação, crises, mudanças de comportamento dos consumidores, concorrência, aumento de tributos etc? (4) serei dedicado, perseverante e disciplinado, mesmo nas adversidades? (5) estou mesmo preparado e estudei o suficiente para abrir um negócio ou franquia?

Clique aqui e cadastre-se para receber informações exclusivas. É gratuito!